Há cerca de quatro anos a Avenida Paulista ganha cores, dança, música e circulação intensa de pedestres e ciclistas aos domingos e feriados. Este é o fruto da mobilização de organizações da sociedade civil e da população, que em 2015 levou à criação do Programa Paulista Aberta pela Prefeitura de São Paulo, no contexto do programa Ruas Abertas. Desde então, uma das avenidas mais movimentadas da capital paulista é palco de atividades econômicas, culturais e de lazer, além de proporcionar um espaço gratuito e amplo para a prática de exercícios físicos.
A mobilização da sociedade civil acompanhou o crescente movimento de reocupação de espaços públicos que já vinha ocorrendo em São Paulo na época, inspirado pela experiência de outras cidades como Rio de Janeiro, Bogotá e Cidade do México. As principais motivações da mobilização pela abertura da Avenida foram incentivar a ocupação do espaço público pela sociedade e valorizar a rua como um local de lazer e de prática de atividade física. Com a restrição à circulação de veículos num trecho de 2,5 km da Avenida, o local passou a ser utilizado pelas pessoas, gerando uma oferta do espaço público para atividades de entretenimento e de descanso.
Neste ano, uma equipe formada pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB/PROURB/UFRJ), Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento do Brasil (ITDP Brasil), Bike Anjo e Corrida Amiga e com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS), verificou quais são os efeitos da iniciativa na vitalidade urbana do local. O conceito se refere ao bom desempenho dos espaços públicos e à sua capacidade de suportar diferentes funções urbanas.
O estudo parte da hipótese de que ruas abertas aumentam a vitalidade urbana e a qualidade de vida no local. A análise foi realizada através de indicadores que se relacionam com a qualidade de vida das pessoas e com o bom desempenho dos espaços públicos em termos ambientais, urbanos, sociais e econômicos. Questionários com amostras representativas foram aplicados com frequentadores, comerciantes e moradores, e ajudaram a compreender como a iniciativa tem impactado esses grupos nos últimos anos.
Os resultados apontam que o programa torna a Avenida Paulista mais atrativa pois permite que as pessoas façam atividades de lazer ao ar livre. Durante a pesquisa, 73% dos frequentadores do programa entrevistados afirmaram que o programa também os motivou a frequentar outros espaços públicos no dia a dia.
O interesse da população pelo projeto é evidente: tanto os moradores quanto os frequentadores afirmam comparecer à Avenida regularmente. 89% dos visitantes e 78% dos moradores relatam visitar o programa com alguma frequência em busca de lazer.
A Paulista Aberta também tem sido positiva para os indicadores econômicos: 63% frequentadores afirmam consumir produtos no local e mais de 80% dos comerciantes notam que o impacto é favorável para seu estabelecimento, já que o volume de vendas aos domingos aumentou desde o início do programa.
Em relação à poluição sonora, quase metade dos frequentadores se sentem confortáveis ou muito confortáveis com o ruído proveniente das atividades que acontecem na rua nos dias de Paulista Aberta. O mesmo índice é de 30% na opinião de moradores, os quais relatam desconforto em relação à poluição sonora causada pela aglomeração de pessoas e eventos musicais. Ainda assim, a percepção de conforto é menor durante a semana, quando o tráfego de veículos é liberado. Nesses dias, somente 12% dos moradores declaram sentir-se confortáveis ou muito confortáveis em relação ao ruído existente.
No geral, o estudo mostra a importância da avaliação e do acompanhamento do resultado de políticas urbanas, fundamentais para a comprovação de seus benefícios e identificação de pontos de aprimoramento. As análises realizadas mostram que o programa obteve sucesso em atingir seus objetivos iniciais, impactando positivamente a vitalidade urbana da Av. Paulista.
Avaliações como essa podem estimular tanto o aperfeiçoamento de políticas públicas existentes, quanto apoiar sua replicação em outras pontos da cidade e até mesmo inspirar políticas similares em outras cidades brasileiras.
Para ler a pesquisa na íntegra, o resumo em português e em inglês, clique aqui.